Sessão de cinema no Núcleo AJA Lisboa – Exílios no Feminino

Foi uma audiência numerosa aquela que acolheu a sessão de cinema “Exílios no Feminino”, no sábado à tarde, dia 19 de Outubro, na sede do Núcleo AJA Lisboa. Documentário realizado por Paulo Guerra e Edgar Feldman, com música de Luis Cília e colaboração de Eduarda Manso, reúne as entrevistas e algumas fotografias de arquivo, também pessoais, de sete mulheres que protagonizaram vidas de exílio, nos anos 60 e 70, em Portugal.

A Guerra Colonial, as lutas estudantis e a repressão são o pano de fundo que levam estas mulheres como tantas outras e outros a partir, para prosseguirem “lá fora” a luta pela liberdade e democracia.

O documentário espelha, com autenticidade e talento, a diversidade de experiências e percursos, tanto aqueles que motivaram as mulheres a sair do país, como aqueles que vivenciaram nos seus países de acolhimento, tais como França, Bélgica, Suécia, Suíça e Argélia. As diferentes formas como sobreviveram, transformando-se a elas e às comunidades com quem trabalharam.

A maioria esteve ligada a associações de emigrantes, algumas a organizações políticas, outras às universidades. Aí desenvolveram um trabalho importante de militância, ativismo e investigação em áreas tão diversas como educação, cultura e direitos humanos, através de bibliotecas, ensino, teatro, imprensa e investigação.

O documentário reflete também as relações de poder e o machismo, particularmente nas organizações políticas em que militavam, mas não só, dando ênfase às lutas de mulheres pelo direito ao seu corpo, pela maternidade, pela liberalização do aborto e pela contraceção, assim como contra as diferentes formas de discriminação e de opressão.

As marcas que o exílio deixou. Afetivas e fortes. O documentário dá conta disto tudo. Por vezes em tons carregados, noutros momentos com mais leveza, até com humor. E foi a esse registo muito emotivo que muitas das pessoas presentes reagiram, exprimindo a sua comoção e entusiasmo no final.

Não houve muitas palavras. Houve abraços, sorrisos, desabafos. A tarde tinha sido longa e intensa. Connosco também a satisfação de descobrir rostos jovens e outros menos jovens que a sessão e o tema convidaram e que, pela primeira vez, nos vieram visitar.

Estiveram presentes na sessão os dois realizadores e a colaboradora, assim como três das mulheres entrevistadas: Helena Cabeçadas, Maria Emília Brederode Santos e Amélia Resende.

Depois de uma breve apresentação –  em que se explicou que o documentário “Exílios no Feminino” se baseia num livro homónimo,  publicado pela AEP 61- 74 (Associação de Exilados Políticos Portugueses entre 61-74) , que tem como objetivo a divulgação de testemunhos de exílio -, foi dada a palavra a um dos realizadores, Paulo Guerra, que salientou a importância do registo destes testemunhos, na primeira pessoa, como forma de conservar a memória daqueles tempos e para abrir janelas para a esperança e para a luta das novas gerações.

Nos tempos obscuros que atravessamos, muitos dos direitos adquiridos correm o risco de serem revertidos. Daí a importância de lembrar, de refletir.

Esta sessão foi uma iniciativa da AJA Lisboa. Entre a assistência estiveram presentes alguns elementos da AEP 61- 74, do NAM (Não Apaguem a Memória) e de outras associações. A sessão terminou com um lanche partilhado à volta da mesa, selando a fraternidade e brindando à luta das mulheres e dos homens por uma sociedade mais justa, com a garantia de direitos e de paz, valores tão caros a José Afonso.

Lisboa, 24 de Outubro 2024

Amélia Resende (Fotos Carlos Martins)

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