SEM FRONTEIRAS | Encontro Imaginário
No dia 23 de abril, às 17h30, na A Barraca terá lugar um ENCONTRO IMAGINÁRIO cujo tema central é o 25 de abril. As personagens, Salgueiro Maia, Kaúlza de Arriaga e Teresa Veleda serão a base dos diálogos que Hélder Costa desenvolveu com a sua arte da controvérsia.
À volta da Mesa teremos as personagens que serão interpretadas por figuras bem conhecidas de todos e que remetem para área de uma militância de impacto público significativo.
Quem vai interpretar, melhor dizendo, quem vai dar voz aos diálogos com as personagens mencionadas?
……………S – segurança total. Já no dia 25, à meia noite e meia, Leite de Vasconcelos lê no programa «Limite», da Rádio Renascença, a primeira quadra de «Grândola, Vila Morena», de Zeca Afonso. «Grândola, Vila Morena / Terra da fraternidade / O povo é quem mais ordena / Dentro de ti / Ó cidade».
A – é o ultimo sinal.
S – é a senha definitiva e o aviso para a saída dos quartéis.
V – você estava no quartel e como leva os soldados? Suponho que ninguém estava à espera de qualquer revolta.
S – a grande maioria não sabia. Estamos na madrugada de 25 de Abril de 74, parada da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Com os soldados perfilados, disse : “Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui.”
V – fantástico!
S – todos os 240 homens que ouviram estas palavras, formaram de imediato à minha frente. Depois seguimos para Lisboa e marchamos contra a ditadura.
V – e ninguém se opôs? Ninguém vos combateu?
S – Deviam estar a dormir (ri)…chegámos a Lisboa, montei cerco aos ministérios do Terreiro do Paço.
A – viagem sem problemas, sem tiros…
S – às 6 da manhã a revolução já estava na rua. O aeroporto, a RTP, a Rádio Marconi, a Emissora Nacional e o Rádio Clube Português já tinham sido tomados sem resistência.
V – e o povo a essa hora?
S – as pessoas queriam ir para o trabalho…(ri). A uma senhora que insistia em passar, tive de lhe dizer «Ó minha senhora, hoje não se trabalha. Amanhã, talvez… mas hoje não! Nem hoje, nem nos dias 25 de Abril que vierem, porque esta data passará a ser feriado!»
K – isso não há-de durar toda a vida.
V – já chegou o Diabo? a ave agoirenta?
A – e assim começou a Revolução dos Cravos, porquê este nome?
S – foi um acidente . Uma senhora…
V – deixe eu contar, como apareceu essa heroína. Ninguém a conhecia, era a Celeste Caeiro. Trabalhava num restaurante, o patrão mandou -a para casa, e ela saiu com os cravos.
A – que engraçado.
V – oiçam as palavras dela…
“Um soldado pediu-me um cigarro, mas eu não tinha. Nunca fumei. Dei-lhe um cravo, que ele pôs no cano da espingarda. Um colega fez o mesmo, depois os outros imitaram-nos. Dei os cravos todos”, conta à “Notícias Magazine”, sustendo, a custo, as lágrimas. “É a emoção pela liberdade. Foi o dia mais feliz da minha vida. Foi muito bonito.” ……..
SALGUEIRO MAIA vs ARNALDO SILVA
Arnaldo Silva vai ser o capitão Liberdade. Todos sabemos que Otelo Saraiva de Carvalho foi o cérebro da Revolução, foi o apaixonado, o utópico o major revolucionário e, quem quiser substituir a figura incontornável e carismática do 25 de abril, está bem enganado. Mas, o seu a seu dono. No palco das operações, no calor da ação e da tensão esteve um homem de elevado valor e de grande capacidade de liderança: Salgueiro Maia. Arnaldo Silva vai ser a sua voz no diálogo do fim-de-tarde de 23 de abril. Arnaldo, antes daquela data, desenvolvia um trabalho de formiguinha nos clubes recreativos e culturais da zona de Vila Franca de Xira. No Vilafranquense , nos cineclubes locais e acabou por ser preso pelas forças repressivas do fascismo. Mais tarde, exilado em Paris, dinamizou várias atividades culturais e de combate anti-fascista nos grupos de teatro e nas associações da cidade luz. Depois do 25 de abril, para além das experiências como autarca, manteve a sua paixão pela intervenção cultural tendo participado nas atividades da Comissão Promotora do Museu do Neo-realisno e iniciativas da Cooperativa Alves Redol em Vila Franca de Xira.
Arnaldo Silva
MARIA VELEDA vs IRENE PIMENTEL
Maria Veleda era o pseudónimo de Maria Carolina Frederico Crispim que foi uma professora, jornalista, activista feminista, republicana, livre pensadora, maçónica e espiritualista que tendo nascido no ano da Comuna de Paris atravessou em vida a primeira parte do século XX até 1955. Quem lhe dará voz será Irene Pimentel, uma militante e ativista das grandes causas dos nossos tempos e uma figura de grande influência política e ideológica por via das diversas atividades que realiza, mas sobretudo pelos resultados das suas investigações como historiadora que fornecem uma luz fundamental a acontecimentos e períodos da História Contemporânea que armam todos aqueles que condenam o fascismo, os regimes autoritários, o neoliberalismo e a injustiça social.
Irene Pimentel
KAÚLZA DE ARRIAGA vs MÁRIO TOMÉ
Kaúlza, para os opositores ao regime antes do 25 de abril, foi aquilo que foi e, aquilo que não foi. Quantos milhares de exilados, de desertores e de refratários, que desenvolviam ação política fora do país, no dia 25 de abril 1974 pronunciaram o nome do comandante da operação Nó Górdio na dúvida da autoria do golpe militar que estava a ocorrer nas ruas de Lisboa? Quem irá participar nos diálogos deste Encontro Imaginário em seu nome será Mário Tomé, capitão de Abril e ex-deputado na Assembleia da República.
Mário Tomé
O modelo dos Encontros Imaginários constitui, no plano do chamado Teatro de Intervenção, uma referência obrigatória pela combinação que assegura de forma particularmente criativa entre a participação da Sociedade Civil e os conteúdos críticos, mordazes e acutilantes dos diálogos entre as personagens, de vários períodos históricos, que se encontam no espaço e no tempo úteis para a crítica social. Helder Costa é o autor do modelo e dos diálogos.
HÉLDER COSTA
Hélder Costa
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