Num trabalho conjunto, de muitas forças, vontades e revoltas, foi possível transformar um país e um regime, mesmo que todos os dias possamos sentir que muitos avanços iniciais se revelaram “desavanços”, como disse o Zeca nos anos 80.
Em 1974, eu não estava lá. Mas estive em 2024, numa Escola Secundária aberta até de madrugada em Palmela.
50 anos depois, o povo cantou em surdina o Grândola, procurando não abafar a voz de uma jovem que também não estava lá.
50 anos depois, vi uma Escola de portas escancaradas, pintada de vermelho, desenhada com palavras de ordem, a partilhar uma Sopa, a aplaudir a plantação de uma Azinheira, sempre ocupada pela música e pelas imagens de uma Revolução a acontecer, no presente, à nossa frente.
Ontem estivemos todos lá.
Assistindo e aplicando um plano de ação que traçámos em coletivo, mas longe de imaginar o alcance do que estávamos a preparar.
Acreditei sempre, porque vocês nunca desistiram, que esta loucura artística e transgressora era possível. Procurámos concretizar este sonho, com as armas mais importantes na sociedade atual: a Educação e a Arte.
Daqui a 50 anos, muitos daqueles corpos enérgicos e muitos daqueles olhinhos vivos que ontem brilharam em cena, e se arrepiaram fora dela, vão estar cá.
E a Revolução-Escola vai permanecer neles e nelas. Não se vão esquecer do que aconteceu nesta Madrugada. E até lá, acredito que queiram e consigam continuar a gritar Liberdade, que possam respeitar e assumir a diferença, que prefiram fugir à norma e subir às cadeiras para se fazerem ouvir, com a Arte e a Educação como pedra basilar.
Ontem fomos formigas deste carreiro, mas em sentido contrário.
E por isso devemos festejar por estarmos orgulhosamente juntos, em coletivo, acompanhados. Preparar esta REVOLUÇÃO-ESCOLA foi muito exigente para todos, a muitos níveis. Mas ontem fizemos ouvir vozes que vão ecoar no Futuro de muita gente.
Acreditem.
João Neca, 25 de Abril de 2024, TEATRO O BANDO
Be the first to comment