Carlos Martins

Hoje, o silêncio pesa mais do que nunca. E não porque nos falte coisa para dizer — há tanto para dizer sobre o Carlos! — mas porque a sua ausência tornou o mundo um pouco mais áspero, um pouco menos justo, um pouco menos livre.
Carlos Matos Gomes foi muito mais do que um militar. Foi um homem inteiro. Um combatente, sim, nas matas da Guiné e depois nas frentes de Abril, mas também um pensador, um escritor, um incansável defensor da liberdade e da dignidade humana. Nunca trocou a espinha pela conveniência. Nunca cedeu ao conforto do silêncio quando era preciso falar. Fê-lo com coragem. Fê-lo com convicção. Fê-lo com honra.
Conhecê-lo foi um privilégio raro. Ser seu amigo, um presente de vida. O Carlos tinha aquela rara capacidade de escutar com atenção e falar com justeza. Sabia discordar sem ferir, sabia corrigir com elegância. Tinha um humor fino, quase clandestino, que só revelava a quem merecia. E era impossível não merecer. Porque ele puxava por nós, exigia que pensássemos, que nos comprometêssemos. E, acima de tudo, que fôssemos decentes.
Foi um homem de Abril, sim. Continuou a lutar pelo país que sonhou, muito depois de o cravo ter murchado na lapela de muitos. Escreveu, alertou, denunciou, educou. Foi incómodo. Foi livre. Foi justo.
E hoje, ao despedirmo-nos dele, sentimos que perdemos um dos bons. Um dos nossos. Um dos que se levantam quando todos se sentam. Um dos que avançam quando a maioria recua.
Carlos, levas contigo uma parte da nossa história, mas deixas-nos muito mais: a memória viva do que é a coragem, o sentido de missão, a lealdade aos valores, o amor profundo por Portugal.
Que a terra te seja leve, camarada.
E que a Liberdade, essa eterna bandeira que empunhaste sem medo, te receba de pé.
Descansa em paz, como só descansam os que viveram em verdade.
Carlos Pereira Martins
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